O Carioca já se prepara para enfrentar o rigor do inverno - desta vez, não apenas com agasalho. Há gente se aquecendo com uma "Fogosa", uma "Santinha" ou uma "Perigosa". A cachaça, a pura, virou moda no Rio, que tem até uma Academia da Cachaça, única casa especializada em servir a mais popular bebida do país. A produção dos melhores alambiques é a maior atração do lugar, que está reunindo os "cachaceiros" ou "acadêmicos" das mais diversas origens.A Academia da Cachaça não é nova: surgiu há 5 anos num espaço pequeno, no Leblon. Logo os três sócios - Renata Quinderé, Edméa falcão e Helcio dos Santos - perceberam que havia mais interessados numa boa pinga do que mesas e cadeiras. Por isso, a Academia transferiu-se para a Barra da Tijuca, onde a cachaça e pratos típicos brasileiros podem ser consumidos sem atropelos, sob a proteção da bandeira nacional, presa no teto, com spots brilhando no lugar das estrelas. Uma criação da arquiteta Gisela Magalhães, que já se tornou símbolo do bar-restaurante.Outra curiosidade da casa da Barra da Tijuca é o Museu da Cachaça, com duas mil garrafas. Uma coleção rara, representando mais de um século da história da aguardente. Para abrigar o museu, foi criado o Canto da Geribita, abarrotado de cachaça - nas prateleiras e até no piso. Uma tela de TV mostra um vídeo de Pedro Vasques sobre o acervo.O Museu da Cachaça guarda raridades colecionadas durante 60 anos pelo mineiro Ulysses Vasconcelos. Provavelmente por ser abstêmio, ele conseguiu manter sua coleção intocada e foi dessa maneira - completa - que ele a vendeu aos proprietários da Academia da Cachaça, no ano passado. E uma de suas exigências ao desfazer-se da coleção foi a de que seus novos donos a mantivessem intacta.
O velho Ulysses - que já anda na casa dos 80 - certamente se orgulharia do tratamento dado à sua coleção. Ela forma o Museu da Cachaça, nome mais do que apropriado, já que as garrafas contam, à sua maneira, 119 anos de história. A mais antiga foi fabricada em 1870, na Fazenda Capão Grosso, na Serra do Cipó, em Minas Gerais. Não se tem notícia de cachaça tão antiga no Brasil. Através dos rótulos toma-se conhecimento da vida do país e de seus habitantes. Ao longo dos anos, A Getulina, por exemplo, lembra os tempos de Getúlio Vargas e a "Forças Ocultas" naturalmente, Jânio Quadros. Outros rótulos - como Luzes da Ribalta, Escandalosa, A Malandrinha e a Gostosona estão mais de acordo com os novos tempos.

Purinha
A Academia da Cachaça oferece três tipos da "purinha": a "nova", a mais forte, também chamada de "cabeça", porque é a primeira que sai do alambique; a "envelhecida", conservada em tonéis de madeira pelo menos um ano; e as infusões, aguardente misturada com ervas e frutas. Há também as caipirinhas de frutas variadas - limão, tangerina, maracujá, abacaxi e - grande sucesso - as de kiwi e morango. Outras batidas são de frutas consideradas exóticas: pitanga e cupuaçu, por exemplo. Claro, não faltam a de coco e limão galego.
Se o "acadêmico" decidir ficar só na pura, terá uma longa lista de opções. São mais de 200 marcas de cachaças de todo o Brasil. Foram selecionadas pelos próprios donos, que saíram em busca das melhores pingas para formar a adega. Para rebater a bebida, serve-se um caldo quente de feijão, aipim, carne, galinha, peixe ou camarão.
Bom aperitivo não dispensa bom petisco, o que também não falta na Academia: patas de caranguejo ao vinagrete, carne de sol, croquete de surubim, sururu ao coco, queijo de coalho, tortinha de palmito, tapioca (com queijo ou coco). Quem prefere refeições, duas sugestões: o Arrumadinho (carne de sol desfiada, feijão verde, farinha) e o Escondidinho (purê de aipim, carne de charque e requeijão). Outros pratos muito requisitados são o Filé Fusura (de origem africana, com inhame e banana cozida) e o Risoto à Academia que é o picadinho da casa, uma mistura de arroz com filé, bacon, banana e champion. De sobremesa, doce de cupuaçu e torta de goiabada com queijo quente - exclusividade da casa.
O novo endereço da Academia da Cachaça da Barra é AVENIDA ARMANDO LOMBARDI, 800, loja L, Condomínio Condado de Cascais, telefone (021) 399.7956.